Malditos os três que me perseguem!
Era uma tarde transparente. No estacionamento do meu trabalho, três estranhos espectros de fumadores. Eles estavam de preto. Ou preto era o sujo de suas roupas? Eufóricos davam giros.
Ao um cair de uma folha, sinto vontade de descer. Mas de onde? Para aonde? Talvez do paraÃso para o contÃguo do inferno. Acompanham-me uma amiga e um amigo. Também três. Também nós homens de bem; nós, lÃmpidos cordeiros.
Ao longe os fumadores brincam de roda. Estendem-se no chão. Catadores de lixo? Moradores de rua?
O que aparenta ser o mais velho tem o estilo "reggae-night";
O do meio... Meio do quê? Do meio do circulo, uma camisa rota e um calção rasgado;
O mais novo, o extremo, esquerda/direita, indo/voltando, parecia - me um velho de sessenta anos.
Prossegue a ciranda sob as lágrimas do céu. Casamento da repousa é o que dizem. Sol e chuva, quente e frio; duas estações, dois estados: principio do bizarro.
O mais novo entra em discussão com o do meio. Por quê? Não se sabe. Prossegue o diálogo dos mudos. Não consigo entendê-los. Talvez estejam sendo... Talvez... Oh, meu deus!
A fumaça em cÃrculo os absorve aos poucos. Em ciranda estão, em ciranda um empurrão. O mais novo cai. O mais velho, Bob Marly provindo das trevas, tenta apaziguá-los. Prossegui a discussão no pequeno espaço delimitado.
À margem dos homens, estamos nós, os três amigos, perdidos nos subterrâneos do medo.
Os fumadores nos percebem. Tentam em vão nos alcançar. Pernas para que te quero. Minha amiga, como ovelha, dá pulos no asfalto; dá pulos de vida entre os canteiros. Meu amigo, o idiota atrás dos óculos, em estado de silêncio, não tem palavras, foge.
Decido ficar. Não tenho medo de espectros.
Os fumadores continuam se espancando mutuamente. Afinal o que querem?
De súbito, uma coruja, dama da noite, aparece no céu; encobre o sol; tenta raptá-los. Desce a coruja. Sua boca é enorme.
Logo, três ectoplasmas envolvidos. Logo três fluidos sugados tais como num ralo. Fecha-se a boca. A coruja, de volta ao crepúsculo, finda o mistério.